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domingo, abril 6, 2025

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Amazonas: Desmatamento cada vez mais perto dos povos isolados da Amazônia

Grupo nunca contactado emerge em Mamoriá Grande enquanto pesquisadores alertam para risco de extinção com asfaltamento da rodovia.

Em 12 de fevereiro, um jovem indígena emergiu da floresta em Mamoriá Grande (AM) em busca de fogo – o primeiro contato registrado com um grupo isolado que sobrevive há séculos no coração da Amazônia. A cena, descrita por agentes da Funai, parece saída de outro tempo: “Eles nos observam com a mesma curiosidade que nós os observamos”, relata Daniel Cangussu, coordenador da Frente de Proteção Madeira-Purus. O grupo, identificado em 2021 mas nunca contactado, agora recebe atendimento médico emergencial após serem encontrados desnutridos em área alagada.

Enquanto a Funai corre para demarcar 259 mil hectares de proteção, pesquisadores da USP soam o alarme: o asfaltamento da BR-319 pode quadruplicar o desmatamento na região. Dados revelam que:

40 unidades de conservação e 50 terras indígenas estão na rota do impacto

Já existem 6 mil km de estradas ilegais mapeadas no entorno

A área é berço dos “rios voadores” que levam chuva para Sul/Sudeste do Brasil

“É uma sentença de morte para povos isolados”, alerta Lucas Ferrante, pesquisador que estuda os impactos da rodovia.

Num revés à proteção indígena, senadores Dr. Hiran e Omar Aziz tentaram suspender o termo de restrição da Funai usando o controverso marco temporal. A medida, que protege a área desde dezembro/2024, enfrenta resistência até de ribeirinhos da Resex Médio Purus, onde 20% do território indígena se sobrepõe. “Precisamos equilibrar proteção e subsistência”, defende Marco Aurélio Tosta, coordenador da Funai para povos isolados.

A história se repete: durante a ditadura militar, a construção de rodovias amazônicas exterminou 8 mil indígenas. Hoje, o Brasil é o 2º país mais perigoso para defensores ambientais. “Eram mais de mil povos no Purus, hoje restam dez”, lamenta Zé Bajaga Apurinã, líder local. A Funai mantém a política de não contato, mas se prepara para cenários complexos caso mais membros do grupo decidam emergir.

Além do risco cultural, pesquisadores alertam para um perigo invisível: a região é um dos maiores reservatórios de vírus desconhecidos do planeta. “O contato descontrolado pode desencadear novas pandemias”, adverte Ferrante. A área de Mamoriá Grande abriga pelo menos outros 4 povos isolados – todos vulneráveis a doenças que poderiam dizimar populações inteiras.

Enquanto o governo segue programando o asfaltamento da BR-319, a Funai acelera a demarcação permanente. O próximo passo será uma grande reunião em abril com ribeirinhos, ICMBio e lideranças indígenas para estabelecer protocolos de coexistência. “Estamos numa corrida contra o tempo”, confessa Cangussu, cuja equipe monitora diariamente o grupo recém-contactado.

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